Por: Manoel Oliveira*
2019 ficará marcado na nossa história como o ano de um importante salto evolutivo da Indústria Aeronáutica Brasileira. Vejamos por quê.
A Indústria Aeronáutica Brasileira é constituída principalmente pela Embraer e pela sua cadeia de fornecedores brasileiros (Indústria de Aeropeças) formada por 75 empresas médias e pequenas, que geram receita anual de US$ 400 milhões e cerca de quatro mil empregos diretos. Acontece que a dependência dessas empresas às encomendas da Embraer é historicamente enorme, alcançando em média cerca de 70% do faturamento da maioria delas.
É por essa razão que, neste ano, a formação da nova companhia Boeing – Embraer, com maioria absoluta de capital da primeira, trouxe uma justificada apreensão para a Indústria: A criação da “Boeing Brasil – Commercial” é uma ameaça ou uma oportunidade para a nossa Indústria de Aeropeças?
Antes de mais nada deve-se entender que a joint-venture entre as duas empresas foi absolutamente necessária para a continuidade do crescimento da Embraer e representa o seu terceiro salto evolutivo. O primeiro salto foi a sua criação em 1969 e o segundo, 25 anos depois, em 1994 que, com a sua privatização, lhe deu liberdade de gestão e oportunidade de captação de novos recursos.
Uma indústria caracterizada por alta densidade tecnológica e intensiva de capital deve, de forma permanente, adaptar-se às condições extremamente dinâmicas e competitivas do mercado, como condição de manter-se viva. Dessa forma, o movimento da privatização, como a associação com a Boeing, representa meios semelhantes de continuar a sobrevivência.
Nesse novo cenário, as empresas que hoje são fornecedoras da Embraer passarão a ser fornecedoras da Boeing, sem dúvida a maior empresa fabricante de aviões do mundo. O saldo é enorme. A Boeing é 20 vezes maior que a Embraer em faturamento e tem valor de mercado mais que o dobro do valor da Airbus. Juntas, Boeing e Airbus estimam um mercado superior a 35 mil novos aviões nos próximos 17 anos.
Assim as empresas de aeropeças brasileiras têm a grande oportunidade de ingressar num mercado global, como vêm fazendo a empresas mexicanas, que faturam 10 vezes o que faturamos e as coreanas que vendem 4 vezes mais o que produzimos. Lembrando sempre que México e Coreia não têm fábricas nacionais de aeronaves, como o Brasil.
Devemos, então, aproveitar essa nova onda que, somada aos sinais iniciais de uma retomada econômica do país e uma nova era de maior liberdade de empreender, turbinará a prosperidade de nossa indústria.
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A aproximação da Boeing e Embraer já dá mostra de novas possibilidades reais. Na semana passada executivos da Boeing americana estiveram no Brasil para visitar as principais empresas fornecedoras da Embraer, com a ideia de avaliar a capacidade de nossa indústria. Isso confirma o que mencionou o seu CEO Dennis Muilenburg, no começo deste ano, ao afirmar que a associação Boeing – Embraer poderá aumentar a cadeia de fornecedores global da Boeing, resultando num acréscimo significativo de compras do Brasil. Por outro lado, também alertou que a maior competitividade resultará na redução de custos para a Boeing e diminuição de margem para os fornecedores, dado o aumento do volume. Tudo bem. Isso poderá gerar milhares de empregos de alto valor agregado!
Cabe agora às empresas brasileiras não desperdiçar essa grande oportunidade de se tornarem globais, pois Embraer e Boeing estão convencidas de que nossas indústrias possuem as competências técnicas exigidas, têm qualidade, praticam preços de mercado e provaram alta capacidade de resposta ao participarem da fabricação das novas peças dos moderníssimos aviões KC-390 e da linha E2 da Embraer.
Ocorre que, mesmo com todos esses sinais otimistas, os empresários brasileiros ainda temem com, talvez, a maior ameaça à nossa indústria: não conseguir os meios para obter os investimentos necessários para a atualização de seu parque de máquinas destinado a atender à nova demanda. Temem permanecer impedidos de competir em condição de igualdade com os coreanos e mexicanos.
Na Coreia do Sul, por exemplo, uma empresa pode importar um equipamento de última geração e pagá-lo em 10 anos, com dois anos de carência. Isto é, a empresa amortiza o empréstimo depois que a máquina está em plena produção. No Brasil, a empresa brasileira importa à vista, com recursos que capta em reais, nas condições do mercado financeiro brasileiro. Acham justo?
Portanto, nesse dia da “Indústria Aeronáutica”, não só comemoramos a data que voou o primeiro avião fabricado em série no Brasil, em 1935, o Muniz M-7, como também fazemos apelo aos órgãos de fomento brasileiros para unirem-se aos empreendedores nacionais, no esforço de aproveitar a grande oportunidade de manter vivo o sonho de nossos heróis aeronáuticos. Precisamos criar linhas de crédito para a atualização técnica de nosso parque industrial, para competir em condições de igualdade com as empresas globais.
Somente dessa forma, Governo e empresas, estarão mais uma vez unidos no esforço na geração de empregos e riqueza, como sempre foi o sonho de nossos heróis da aviação.
Santos Dumont, Montenegro, Paulo Victor e Ozires Silva agradecem esse presente.
*Manoel de Oliveira é formado pela Academia da Força Aérea, Engenheiro Civil e pós-graduado em Marketing e Finanças. Atou por mais de 30 anos na área de desenvolvimento industrial do Departamento de Ciência e Tecnologia do Comando da Aeronáutica. Serviu a FAB em missões técnicas nos EEUU e na Itália.
Na reserva assumiu o cargo de Vice-Presidente Executivo de Finanças da Embraer e coordenou o processo de privatização da companhia.
Atualmente atua como sócio-diretor das empresas FTB Tecnologia e Sygma Tecnologia.
É Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Invoz, Membro do Conselho de Administração do Instituto Semear e Membro do Conselho Consultivo do Casd Vestibulares, todos na cidade de São José dos Campos.