Guilherme Paraense: os 103 anos da medalha de ouro no tiro esportivo, a 1ª medalha olímpica brasileira

Data da conquista inédita da medalha de ouro em 1920 marca o dia do Atirador Desportivo no Brasil

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Tenente Coronel Guilherme Paraense
Guilherme Paraense já no posto de Tenente-Coronel do Exército

A conquista inédita da 1ª medalha de ouro, no tiro esportivo, entrou para história do esporte brasileiro e o Tenente Guilherme Paraense escreveu seu nome de forma definitiva como o primeiro campeão olímpico da história do país.

Guilherme Paraense nasceu em Belém do Pará, no dia 25 de junho de 1884. Aos 5 anos de idade foi para o Rio de Janeiro, onde começou a frequentar a Escola Militar de Realengo. Entrou pra carreira militar ingressando na Escola Militar da Praia Vermelha e em 1912 foi promovido a Aspirante Oficial.

A prática de tiro era exigida no exercício de suas atividades como militar do Exército Brasileiro e sua tranquilidade o fazia atirar com mão firme e acertar com precisão os alvos, independente do formato que tivesse.

Sua habilidade logo lhe rendeu conquistas. No final da década de 1910, Guilherme Paraense foi campeão brasileiro e também sul-americano na modalidade, tiro com revolver. Em 1914, Paraense, junto a um grupo de atiradores, fundou o Revólver Clube, no Rio de Janeiro, destinado a dar maior atenção à pratica do tiro esportivo, que vinha ganhando um número crescente de adeptos. O clube favoreceu a realização de torneios e aprimorou o desempenho de atletas dedicados à modalidade. Por seus resultados, Paraense foi convidado a compor a primeira equipe brasileira de tiro e também fez parte da primeira delegação brasileira a disputar uma edição dos Jogos Olímpicos, em Antuérpia (Bélgica).

A aventura Olímpica

Paraense embarcou para Antuérpia no mês de julho de 1920, com seus companheiros de equipe, numa viagem que durou 28 dias, a bordo de um navio mercante cedido pelo governo federal (Navio Curvelo). Uma viagem precária e com algumas dificuldades. Os atletas viajaram de 3° classe, em camarotes pequenos e sem ar, porém, apesar das precárias condições, os representantes do tiro ainda treinaram durante a viagem. Numa escala em Portugal, a equipe de atiradores decidiu seguir de trem até a Bélgica, pois o navio não chegaria a tempo do início da competição. Viajaram em um trem aberto, sob chuva e sol.

Ao chegarem em Bruxelas, parte das armas e munição da equipe foram roubadas. Afrânio Costa, Sebastião Wolf, Dario Barbosa, Fernando Soledade e Guilherme Paraense chegaram ao campo de Beverloo, onde estavam concentradas as equipes de tiro esportivo. Os brasileiros tinham apenas 200 munições calibre 38, quando cada atleta precisaria de 75. Com tantas dificuldades durante a viagem, desde más condições de sono, fome, até o furto de seus armamentos, a equipe brasileira de tiro chegou aos jogos de moral baixa e não imaginava a reviravolta que aconteceria.

A delegação norte-americana jogava xadrez e depois que Afrânio deu dicas para Alfred Lane e Raymond Bracken, os novos amigos cederam parte de seu arsenal: 2 mil cartuchos e duas pistolas Colt, feitas especialmente para os competidores americanos usarem nas olimpíadas. Uma atitude de fair-play que dificilmente seria vista nos dias de hoje.

No dia 2 de agosto, Sebastião Wolf, Dario Barbosa, Fernando Soledade, Guilherme Paraense e Afrânio Costa garantiram o bronze na prova por equipes. Foi a primeira medalha do Brasil em Jogos Olímpicos. No mesmo dia, Afrânio também conseguiu a medalha de prata na prova individual dos 50m de pistola livre.

No dia seguinte, 3 de agosto, Paraense levou o país ao lugar mais alto do pódio conquistando a 1ª medalha. Na prova de pistola de tiro rápido, que consistia em 30 tiros a uma distância de 30 metros do alvo, Guilherme Paraense acertou em cheio o último deles, que decidiu a medalha. Fez 274 pontos de 300 possíveis, contra 272 do segundo colocado, o americano Raymond Bracken, o mesmo militar que havia cedido o armamento para que os atletas brasileiros pudessem participar das provas. Os americanos chegaram a reclamar com a organização, mas o Comitê Olímpico Internacional (COI) manteve o resultado.

Por este motivo, no dia 3 de agosto, em todo o Brasil é comemorado o Dia do Atirador Desportivo.

Revólver utilizado por Paraense na conquista da 1ª medalha de ouro olímpica do Brasil, nos jogos da Antuérpia de 1920

A conquista inédita de Paraense com a 1ª medalha de ouro entrou pra história do esporte brasileiro e Paraense escreveu seu nome de forma definitiva como o primeiro campeão olímpico da história do país. Somente 32 anos depois o Brasil ganharia uma nova medalha de ouro, com Adhemar Ferreira da Silva, em Helsinque (Finlândia).

Paraense teve a honra de ser o primeiro porta-bandeira olímpico do Brasil. Como o desfile de abertura ocorreu somente em 16 de agosto, treze dias depois da conquista do ouro, seu nome foi uma unanimidade para carregar o símbolo máximo do país.

Além do ouro olímpico, Paraense colecionava outros títulos: venceu os campeonatos brasileiros de 1913, 1914, 1915, 1918,1922 e 1927. Apesar dos feitos, resolveu abandonar o esporte no início da década de 30 e não quis competir nas olimpíadas seguintes. Participou da Revolução de 1930 e, em 1941, chegou ao posto de Tenente-Coronel, transferindo-se em seguida para a reserva.

Em 05 de maio de 1989, o pioneiro do olimpismo do país foi homenageado pelo Exército Brasileiro, que batizou com o nome Polígono de Tiro Tenente Guilherme Paraense, o conjunto de estandes de tiro da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), sediada em Resende (RJ), onde é realizado anualmente um torneio que também leva seu nome, válido pelo calendário brasileiro de competições de tiro esportivo.

Nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, foram feitos selos em sua homenagem. Em 2013 e 2014, o revólver usado por Paraense na conquista do ouro olímpico foi mostrado na exposição interativa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Jogos Olímpicos: Esporte, Cultura e Arte, que passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Guilherme Paraense morreu aos 83 anos, vítima de infarto, no dia 18 de abril de 1968 e ainda é o único competidor brasileiro a ter ganho uma medalha de ouro no tiro esportivo em olimpíadas.

Documentário

Documentário que mostra a trajetória dos atletas brasileiros que foram à VII Olimpíada, em 1920, na Antuérpia (Bélgica).

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